GT 1
TRADIÇÕES E RELIGIÕES ASIÁTICAS

Dr. Bruno do Carmo Silva (PPCIR-UFJF)
Dr. Matheus Landau de Carvalho (PPCIR-UFJF)
 
Ementa: Há algumas décadas, é claramente perceptível uma certa ausência de realidades asiáticas nas graduações de Letras, Filosofia e Ciências Humanas do Ensino Superior brasileiro em geral, principalmente no âmbito do magistério, tanto como objetos de pesquisa, quanto como referenciais metodológicos de verificação ou reflexão que transcendem metodologias aplicadas e objetos de estudo circunscritos apenas às matrizes greco-romana e judaico-cristã.

    Este aspecto é importante para a(s) Ciência(s) da(s) Religião(ões) pelo fato do interesse pelas realidades asiáticas terem constituído parte fundamental de seus primeiros momentos institucionais, pelo menos desde seu fundador formal no século XIX E.C., Friedrich Max Müller, estudioso de tradições religiosas da Ásia e editor – e também tradutor de alguns volumes – da coleção Sacred Books of the East [Livros Sagrados do Oriente], cinquenta volumes publicados em inglês pela Oxford University Press entre 1879 e 1910, compostos, entre outros, por fontes védicas, islâmicas, budistas, daoístas, mazdeístas e jainistas.

    O objetivo do GT Tradições e Religiões Asiáticas é reunir pesquisadores/as visando estimular os estudos e o diálogo em torno da pluralidade de tradições que se desenvolveram na Ásia como um todo, desde a Capadócia e a Palestina até os arquipélagos filipino, japonês e indonésio. Estes estudos podem ser compreendidos através: (1) de uma dimensão religiosa, expressa em práticas rituais e devocionais, narrativas mitológicas, sistemas de moralidade, projetos soteriológicos e produções artísticas; (2) de uma dimensão filosófica, identificada na investigação dos princípios metafísicos, ontológicos, lógicos, éticos e estéticos que caracterizam especulações de caráter cognitivo; e (3) de uma dimensão histórica, que englobe expressões socioculturais e literárias genuinamente asiáticas como objeto de análise de metodologias das Ciências Humanas, como a Sociologia, a Linguística, a Psicologia, a Antropologia, a Ciência Política, a Teologia, a Geografia, a Literatura e a História. Seja qual for a dimensão da pesquisa, deve refletir iniciativas contemporâneas de compreensão e/ou revisão de vários estudos e realidades orientais, com a possibilidade de incluir processos de transplantação ou transnacionalização cultural, estudo comparado das religiões e perspectivas de diálogo inter-religioso.

    Neste sentido, o presente GT é um convite para o alargamento de horizontes teóricos e epistemológicos no intuito de apontar para o Homo historicus, o Homo aequalis, o zoon politikon, o Homo linguisticus, o Homo oeconomicus, o Homo geographicus, o Homo hierarchicus, o Homo psychologicus, o Homo sociologicus e o Homo religiosus, como possibilidades paradigmáticas do Homo sapiens sapiens capazes de transcender, no tempo e no espaço, as matrizes lógico-racionais, linguístico-semânticas e neuro-psicológicas oriundas do hemisfério ocidental, com vistas ao estímulo dos estudos e do diálogo em torno da pluralidade de tradições que se desenvolveram no continente asiático.

Palavras-chave: História da Ásia. Tradições religiosas asiáticas. Tradições filosóficas asiáticas.

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GT 2
RELIGIÃO E VIOLÊNCIA

Doutorando Jungley de Oliveira Torres Neto (UFJF)
Doutorando Rondinele Laurindo Felipe (UFJF)
Mestranda Larissa Dantas Camargo Mello (UFJF)

Ementa: O objetivo deste Grupo de Trabalho é promover um debate qualificado em torno da temática: religião e violência. A abordagem poderá se desenvolver a partir de teóricos variados e abordagens metodológicas diversas, com ênfase nos seguintes eixos: violência no campo da vida política, cultural, econômica e da epistemologia; essas referidas instâncias tocam propriamente à religião e se repercutem. Abrir-se-á para abordagens da violência no campo simbólico, em que não há coação física, mas há danos morais, psicológicos, afetivos, e traços bem ‘violentos’ ao ser humano em sua afeição. As propostas ao GT podem enfocar em ‘estratégias’ de adotar uma postura anti-violenta, como, por exemplo: o caminho dialógico, interdisciplinar e interreligioso. Como extensão da proposta do núcleo ETER, a proposição do GT dedica-se ao debate e ao estudo de teorias sobre a religião, com intuito de reunir professores, pesquisadores e estudantes interessados nessa temática supracitada, e, por conseguinte, em debatê-la. A proposta pode seguir tanto na linha da Filosofia e Epistemologia da Religião, quanto da Antropologia da Religião. Vertentes que pretendem investigar os aspectos filosóficos, históricos e sistemáticos da constituição da área de CR e debates contemporâneos sobre o tema, no que se refere ao nexo entre religião e violência. Pensar a religião sob os aspectos ambíguos da violência poderá ser promissor no sentido de buscar reflexões, às vezes polêmicas, mas não sem efeitos práticos para uma possível implementação didática de busca pela paz, respeito e tolerância entre os povos.

    Pensar nessa polêmica junção entre religião e violência, significa também investigar o conceito de violência e sua repercussão nos cenários religiosos. Semelhante questão, nos dará suporte para tentarmos responder o que é violência, ou como a violência se apropria do sagrado. E mais: Quais são as contribuições da Ciência da Religião para o tema? Movendo-nos na direção desses questionamentos buscar-se-á trazê-los para o campo da abordagem, debate e reflexão temática da: religião e violência ou, por extensão, religião e a atitude anti-violenta, de busca pela paz e dos direitos humanos. Neste desiderato, também será muito interessante proposições de abordagens fenomenológicas e hermenêuticas. Que investigam como pensadores da fenomenologia (tanto da religião como filosófica) e da hermenêutica podem auxiliar na interpretação da religião. Neste caminho, serão indagadas as contribuições para o entendimento e relação entre religião e violência numa aproximação hermenêutica e que busca outras fontes para se pensar o tema. 

Palavras-chave: Religião. Violência. Diálogo. Paz.

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GT 3
RELIGIÃO, ARTE E MATERIALIDADES:
NOVOS DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE ESTUDOS 

Doutoranda Mara Bontempo Reis (UFJF)
Mestra Viviane de Sousa Rocha (UFJF)

Ementa: Este Grupo de Trabalho (GT) tem por objetivo acolher pesquisas que abordam a relação entre religião, literatura, arte, materialidades religiosas, ritos, espaços e práticas devocionais, buscando produzir debates que compreendam os múltiplos atravessamentos dessas relações. Outrossim, a proposta deste GT é dar destaque às formas materiais e imateriais de produção de sentido e de experiência religiosa, como também de busca de sentido da vida, esperança e de busca pela paz, da não violência e do amor a toda a vida, seja humana ou não, nesta viagem da experiência e vivência do ser humano por meio da arte, literatura e da religião. Os estudos sobre religião material buscam compreender como as pessoas experimentam e vivenciam as religiões a partir dos objetos e toda a sua configuração. Trazer à luz os estudos sobre materialidade religiosa se faz necessário, tendo em vista que a dimensão material é essencial para a construção de identidades, crenças, grupos e comunidades religiosas (MEYER, 2019). Meyer considera que no campo das investigações sobre materialidades religiosas, deve haver o pressuposto de que as coisas, com os seus valores, ações e uso não são algo que se acrescenta às religiões, mas sim algo delas indissociáveis, pois os objetos não são inertes, eles estão o tempo todo participando, afetando e sendo afetados e desempenham um papel importante na relação humana. Paul Tillich (2009, p. 83) expõe que religião é a preocupação básica e aborda a importância dos símbolos (TILLICH, 2009, p. 98). Para esse autor é possível olhar para as obras culturais, artísticas, filosóficas, música, literatura, arquitetura e pintura, como importantes para compreender o espírito humano. Para Tillich, a religião significa preocupação última, preocupação suprema (TILLICH, 2009, p. 81). Mesmo a cultura, a arte secular, apresentam um olhar para o incondicional, o infinito. Ambos autores, Meyer e Tillich, consideram a religião e a arte, a cultura da humanidade, e nos mostram que somente o ser humano é religioso e faz e admira a arte e é afetado por ela. Assim sendo, religião e arte constroem sentidos e identidades, a partir da materialidade e dos símbolos, tornando-se assim importantes para a valorização de toda a vida, não só do ser humano. Portanto, este GT pretende reunir trabalhos de pesquisadores (as) que buscam investigar as diversas articulações entre religião, arte, materialidades e suas diferentes configurações, propondo debater e apontar novos desafios e possibilidades de estudos. 

Palavras-chave: Religião. Arte. Materialidades Religiosas. Símbolos.

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GT 4
CRISTIANISMOS DAS ORIGENS

Mestre Iuri Nunes (UFJF)
Mestre Daniel Salomão Silva (UFJF)
Mestre Matheus Carmo (UFJF)

Ementa: O esforço de se compreender o contexto geográfico e cultural da memória dos ditos de Jesus, a forma como foram organizados teologicamente por seus primeiros seguidores, bem como o processo de transmissão das narrativas que deram origem ao material do Novo Testamento, e mesmo de textos não canônicos, pode nos oferecer uma visão mais robusta sobre as primeiras comunidades cristãs em sua diversidade. Nesse sentido, esse GT tem o objetivo de acolher pesquisas sobre materiais dos séculos III a.C. a III d.C., judaico-cristãos ou não, mas que possam enriquecer as reflexões sobre os cristianismos originários. São naturalmente bem-vindas as contribuições dos campos da História, da Teologia, das Ciências Sociais, dos Estudos Culturais e Literários, bem como da própria Ciência da Religião, destacando seu caráter multidisciplinar. Estudos filológicos e exegéticos dos judaísmos e cristianismos antigos deram início às Ciências da Religião na Europa juntamente com a História Comparada das Religiões e a posterior Fenomenologia da Religião. Logo, entendemos como importante a tentativa de se recuperar essa tradição junto à Ciência da Religião e em meio ao nosso atual contexto social e político, ainda que de forma crítica e atenta às metodologias mais recentes. Mantendo também em mente a importância do diálogo entre as pesquisas acadêmicas e a comunidade não acadêmica, essas reflexões podem também ser um rico material para os próprios grupos cristãos ou não que fazem parte de nossa sociedade atual, para a compreensão de suas narrativas, como são articuladas e incorporadas aos seus contextos específicos, em diálogo com o que podemos estimar das primeiras formulações cristãs entre as comunidades originárias. Em um momento em que leituras e posturas fundamentalistas, que se afirmam baseadas na literatura bíblica, têm se destacado, entendemos como produtivo o desenvolvimento de uma leitura mais atenta, crítica e madura dos textos bíblicos e seus contemporâneos.

Palavras-chave: Cristianismos Originários. Novo Testamento. Bíblia Hebraica.

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GT 5
NATUREZA, ESPIRITUALIDADES E A CRISE DO ANTROPOCENO

Mestre Túlio Toledo (UFJF)
Mestra Luana Telles (UFJF)

Ementa: Nos dias de hoje, as discussões acerca dos impactos preocupantes da relação do ser humano com o seu habitat natural se mostram cada vez mais presentes. As ciências, as políticas, o processo educacional, mesmo que atrasados, já estão voltando suas atenções para a inadiável reinclusão da Natureza como paradigma fundamental humano. A busca por uma ressignificação da Natureza enquanto condição vital para o prosperar da humanidade assume um papel fundamental. As pesquisas sobre os limites do Antropoceno se mostram cada vez mais urgentes e se apresentam como uma polifonia de vozes que emanam esperança. As florestas, os rios, as marés e as infinidades de espécies que coexistem nesse emaranhado orgânico de vida possuem suas próprias linguagens. Os campos dos saberes humanos convidam pesquisadoras e pesquisadores da(s) Ciência(s) da(s) Religião(ões), e áreas afins, ao aprofundamento crítico das interconexões entre as variadas expressões de religiosidade e os modos humanos de habitar a Terra. Nesses termos, o presente grupo de trabalho propõe um espaço multidisciplinar para o debate e o germinar de possibilidades para se pensar a relação entre as diversas cosmovisões das religiões/espiritualidades e o lugar/valor da Natureza nesses multifacetados discursos. A partir da atmosfera geral do Congresso Nacional de Ciência da Religião – CONACIR 2023, UFJF, com a temática: Religião e direito à esperança no Antropoceno, o GT visa, especialmente, convidar a (i) reflexões sobre as diversificadas compreensões cosmológicas, mitológicas e espirituais sobre o mundo natural; (ii) discussões sobre as características da natureza nas variadas religiões/espiritualidades/filosofias, e (iii) propostas oriundas das mais variadas Ciências Humanas – Sociologia, Arte, Linguística, Psicologia, Antropologia, Ciência Política, Geografia, Literatura e História – com o ideal de contribuir, sob suas mais diversas metodologias, para a análise das possíveis inter-relações entre espiritualidades e Natureza. Dessa forma, esse GT convida a todos e todas para refletir sobre maneiras de se repensar o comportamento dessa era geológica dos humanos. 

Palavras-chave: Antropoceno. Religião. Espiritualidades. Natureza.

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GT 6
PSICOLOGIA E RELIGIÃO

Doutoranda Vanessa Rocha da Silva (PPCIR/UFJF)
Mestrando Lucas Teixeira Souza (PPCIR/UFJF)
Mestrando Theobaldo Tollendal (PPCIR/UFJF)

Ementa: Desde seu início, a Psicologia tem se relacionado com a religião das mais variadas formas. Wilhelm Wundt e William James, por exemplo, são dois precursores nesse campo e suas ideias são influentes até os dias de hoje. Ainda que sejam conhecidas as dificuldades de nomenclatura da área (psicologia da religião, psicologia e religião, psicologia religiosa, etc.), e que, por diversas vezes, seja feita a opção por “espiritualidade” ao invés de “religião”, buscando ressaltar o aspecto pessoal, íntimo, experiencial em contraposição ao institucional, ritual e ideológico, o objeto e os objetivos de estudo tem se mostrado, dentro do possível, estáveis. Autores amplamente reconhecidos, como Vergote, Pargament, Aletti e Milanesi, entre outros, concordam que o objeto é o ser humano enquanto religioso, abarcando suas motivações, suas atitudes, suas aspirações, suas vivências e afins, que possam ser percebidos em seu comportamento. Já entre os objetivos dos estudos de Psicologia da Religião, Antonio Ávila, de forma concisa, nos diz que estão “inventariar os comportamentos religiosos, explorar as diferenças significativas, compreender as relações com os outros fenômenos humanos, conhecer as estruturas internas das experiências e dos comportamentos religiosos, discernir a atitude religiosa aparente da autêntica e formular hipóteses compreensivas da dimensão religiosa do homem” (Para conhecer a Psicologia da Religião, 2003, p. 18). Diante disso, o GT “Psicologia e Religião” têm como propósito reunir diversos pesquisadores que abordem o fato religioso a partir da perspectiva psicológica, visando possibilitar discussões e reflexões ainda mais amplas no CONACIR. Entendendo não só a importância histórica, mas também a relevância atual de tais estudos, e tendo como alvo receber pesquisas heterogêneas, serão aceitos para comunicação oral trabalhos produzidos por discentes que cursam mestrado e doutorado – ou que já se formaram na modalidade stricto sensu – e que abordem a intersecção entre Psicologia e Religião em suas numerosas alternativas, com espaço aberto tanto para as teorias clássicas quanto para as contemporâneas. Estudantes de graduação também são muito bem vindos, havendo oportunidade de apresentação de banner científico.

Palavras-chave: Religião. Psicologia da religião. Espiritualidade.

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GT 7
ATRAVESSANDO O ATLÂNTICO:
UM PANORAMA SOBRE A HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DO ESPIRITISMO NA FRANÇA E NO BRASIL

Doutora Angélica Aparecida Silva de Almeida (IF SUDESTE–MG)
Mestre Paulo Victor Cota de Oliveira Franco (PPCIR–UFJF)
Doutorando Vitor César Presoti (PPCIR–UFJF)

Ementa: Em meio ao contexto de rupturas do século XIX, Allan Kardec trouxe ao mundo uma doutrina fundamentada na reinterpretação da narrativa cristã, tomada por características evolutivas, cientificistas e que se apropriava do caráter de racionalização, reflexos do espírito de sua época. Alinhado à filosofia, à ciência e à modernidade, o Espiritismo apropriou-se dos preceitos morais e filosóficos do Cristianismo, distanciando-se do Catolicismo e seus dogmas. O primeiro livro espírita, Le Livre des Esprits, publicado em 1857, obtendo 22 edições em 17 anos após seu lançamento. Pouco tempo depois, a Revue Spirite foi fundada, sendo o maior periódico espiritualista em circulação na França no período. Todo o trabalho culminou na organização de uma Sociedade capaz de reunir os interessados em investigar os fenômenos espíritas. A Société Parisienne des Études Spirites permitiu o Espiritismo ganhar novos horizontes, inclusive no Brasil. Com a morte de Allan Kardec, o legado espírita francês recai sobre a tutela de Pierre Gaëtan-Leymarie e contou com o envolvimento de grandes personalidades na época como Victor Hugo, Camille Flammarion e também revelando nomes como o operário Leon Denis.  Para os espíritas, a doutrina contém aspecto tríplice que a define como científica, filosófica e religiosa, mostrou-se um campo fértil que possibilitou ser interpretada e desenvolvida de diferentes maneiras, nos mais diversos espaços em que pousou. No Brasil não seria diferente, ao chegar neste solo tropical o Espiritismo encontrou diferentes grupos sociais dispostos a enfatizar um de seus múltiplos aspectos, ora pendendo mais à face religiosa, ora às ideias filosóficas, ora às ideias cientificistas. Durante a década de 1860, personagens como Casimir Lieutaud e Luís Olímpio Telles de Menezes, ajudaram a doutrina espírita a dar seus primeiros passos no Brasil através da publicação das primeiras obras literárias espíritas no país (os livros Les temps sont arrivés, e O espiritismo – introdução ao estudo da doutrina espírita; o jornal Echo d’ Além-Túmulo, circulando também na França e outros países europeus). Na década de 1880, Augusto Elias da Silva e seus confrades fundaram a Federação Espírita Brasileira, órgão que, sob a liderança e as interpretações de Adolfo Bezerra de Menezes, mais tarde tornara-se responsável por agrupar e sistematizar o Espiritismo hegemônico brasileiro. Este momento inicial foi marcado por constantes embates com a igreja católica, médicos e intelectuais, baseado em uma lógica de disputas, demarcações e conflitos, de maneira que, durante este processo o Espiritismo foi reinterpretado, desenvolvendo uma identidade espírita originalmente brasileira. Outro importante agente desta reinterpretação foi o médium Chico Xavier, um dos maiores exponentes do movimento no país, angariando destaque na área literária no Brasil e no mundo. Atualmente os espíritas representam o terceiro maior grupo religioso no Brasil, além disto, o imaginário espírita encontra-se presente de modo marcante em nossa sociedade, muito além do seu número de adeptos declarados. Esse Grupo Temático irá promover o debate entre pesquisadores que trabalhem com o Espiritismo como objeto de estudos, abordando a trajetória e desenvolvimento do Espiritismo na França e no Brasil, bem como seus principais agentes.

Palavras-chave: Espiritismo. Allan Kardec. Campo Religioso Brasileiro. Chico Xavier. Espiritismo Brasileiro.

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GT 8
CRISTIANISMO E INTERSECCIONALIDADE NO BRASIL

Doutoranda Lidia Bradymir (PPGA/UFBA)
Mestranda Gisele de Deus (PPGA/UFBA)

Ementa: O cristianismo representa, historicamente, uma maioria no campo religioso brasileiro, sendo marcado por transformações que acentuam a queda dos católicos e o crescimento dos evangélicos. Conforme apontam Cecília Mariz e Maria da Dores Machado, o processo de modernização no âmbito religioso no Brasil gerou duas tendências aparentemente contraditórias: a) reelaborações religiosas caracterizadas pelo baixo comprometimento dos adeptos; b) um reforço nos discursos de pureza e de barreiras entre as religiões. É nesse contexto de diversificação e acirramento da competição dentro do mercado religioso que os cristianismos rearticulam suas práticas e discursos frente a questões de identidade impostas pela modernidade.

    Os cristianismos diferenciam-se em práticas, discursos e relações com a sociedade mais ampla. Por um lado, temos grupos que reforçam suas fronteiras, e mantêm uma postura crítica ao debate de temas “seculares” — como raça, gênero e sexualidade. Por outro, temos cristãos que se articulam a essas discussões, seja para manter uma postura conservadora ou progressista, que muitas vezes vem acompanhada de embasamento bíblico.

    Sendo o Brasil um país que resulta de um processo longo de colonização europeia e escravidão negra, temos nestes um grupo étnico-racial discriminado que ainda luta por direitos civis e que compõem a maioria cristã no Brasil — por meio do pertencimento às religiões pentecostais, como dito por Marco Davi Oliveira. Ainda assim, diferentes vertentes cristãs possuem posicionamentos raciais controversos, movimentando o debate público. Enquanto há cristianismos que embasam biblicamente o racismo e a escravidão, e movimentam-se demonizando entidades afrorreligiosas, há também movimentos cristãos que debatem uma teologia negra, compõem movimentos antirracistas e unem-se aos afro religiosos no combate ao racismo religioso.

    De forma similar, existe expressiva participação de mulheres no cristianismo brasileiro, contando com a implementação do sacerdócio feminino entre os evangélicos. Apesar disso, mesmo que por vezes as mulheres cristãs tenham certo desprestígio se comparado aos homens nas igrejas, muitas fazem coro a discursos antifeministas. Em contrapartida, há grupos crescentes de cristãs feministas que defendem a ampliação dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.

    Já no que toca às questões LGBTQIA +, historicamente os cristianismos tratavam o tema sob a ótica do pecado e da proibição. A conduta cristã, de forma majoritária, é a de reprimir a livre expressão das pessoas LGBTQIA + dentro das igrejas e, na esfera pública, se posicionar contra o avanço dos seus direitos civis. Conforme Marcelo Natividade têm apontado, desde a década de 1990 houve igrejas tradicionais que se posicionaram a favor da inclusão de gays em cultos. De forma ainda mais radical, houve a criação e expansão das igrejas inclusivas, que acolhem os homossexuais e compreendem que não há pecado em ser LGBTQIA+.
Assim, considerando os atravessamentos que configuram a diversidade dos cristianismos contemporâneos pontuados acima, este GT abre espaço para pesquisas que discutem os emaranhamentos das experiências religiosas e questões raciais, de gênero e LGBTQIA+, bem como as “reações” em grupos cristãos — na sua atuação na esfera pública ou dentro de suas comunidades de fé.

Palavras-chave: Cristianismos. Raça. Gênero. Sexualidade.

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GT 9
REINVENTANDO IMAGINÁRIOS E CONSTRUINDO CONHECIMENTOS:
CONTRIBUIÇÕES DOS ESTUDOS SOBRE RELIGIÕES AFRO BRASILEIRAS NA BUSCA POR DIREITOS

Doutoranda Vitória Marques Bergo (UFJF)
Mestranda Tharsis Corrêa Oliveira (UFJF)

Ementa: O presente GT tem como propósito o debate das epistemologias, metodologias de pesquisa e a produção de conhecimento das religiões afro-brasileiras. Por meio de abordagens teóricas e interdisciplinares, intenta-se compreender e analisar os desafios e perspectivas que envolvem a produção de conhecimento nesse campo. O GT busca assim, promover uma discussão a partir dos estudos sobre as religiões afro-brasileiras, de modo a elucidar caminhos teórico-metodológicos e epistemológicos da ciência da religião que contribuem para a construção de conhecimento científico comprometido com a justiça social e a promoção de esperança na sociedade vigente.

    A proposta envolve discutir a contribuição de trabalhos que produzam reflexões acerca da busca de direitos por reconhecimento e dignidade de existência dos diversos povos representados pelas religiões de matriz africana. Consideramos portanto, reflexões de temas que circundam e afirmam o protagonismo destes sujeitos religiosos na luta por reconhecimento de suas alteridades, desempenhadas tanto na transformação social brasileira, quanto no contexto de uma discussão epistemológica, proposta a partir da ciência, no campo da educação. O GT pretende estimular um diálogo crítico e reflexivo entre pesquisadores e praticantes, promovendo uma compreensão mais ampla e comprometida com a realidade vivenciada pelas religiões afro-brasileiras, discutindo fenômenos que perpassam sua existência e resistência, tais como: racismo religioso, intolerância religiosa, luta por reconhecimento identitário e territorialidade. 

    Por fim, o GT também abordará os movimentos sociais que emergem das religiões afro-brasileiras, examinando as lutas por direitos e justiça social, bem como as estratégias e iniciativas desenvolvidas na história de suas trajetórias. Ao promover uma abordagem interdisciplinar, o GT aspira incentivar a colaboração entre pesquisadores de diferentes áreas e a integração de perspectivas diversas, contribuindo para o enriquecimento do campo de estudos sobre as religiões afro-brasileiras e suas conexões entre a ciência da religião e outros campos disciplinares como ciências sociais, história, geografia, sociologia, antropologia e educação. Espera-se então que esse GT possa proporcionar um espaço de debate, aprendizado e construção coletiva de saberes, contribuindo para o fortalecimento da compreensão das religiões afro-brasileiras e sua importância na luta por uma sociedade mais justa e igualitária, antiracista, laica e inclusiva. 

Palavras-chave: Religiões Afro-brasileiras. Saberes de Matriz Africana e Indígena. Racismo Religioso. Direito e territorialidades. Africanidades. Epistemologias decoloniais.

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GT 10
RUBEM ALVES:
RELIGIÃO, ÉTICA E ESTÉTICA

Dr. Arnaldo Érico Huff Júnior (UFJF)
Dr. Edson Fernando de Almeida
Mestre Matheus da Silva Carmo (UFJF)
Mestrando Luidy Xavier Nogueira (UFJF)

Ementa: O objetivo deste Grupo de Trabalho é promover a pesquisa e o debate acerca da teoria da religião e da teologia de Rubem Alves. As abordagens deverão se desenvolver ao redor dos temas da epistemologia da religião (teoria, conceitos, etc.), da ética (política, educação, etc.) e da estética (poesia, música, etc.) em diálogo com a obra de Rubem Alves. Aportes teórico-metodológicos diversos e interdisciplinares serão bem-vindos.

Palavras-chave: Religião. Teologia. Rubem Alves.

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GT 11
HERMENÊUTICA DA RELIGIÃO

Dr. Danilo Mendes (UFJF)
Doutorando Felipe de Queiroz Souto (UFJF)
Mestranda Ana Carolina Sales (PUC-Campinas) 

Ementa: A hermenêutica é um método e uma disciplina filosófica dedicada ao estudo da linguagem e ao que concerne a ela. Por isso, sua aplicação destina-se à interpretação de textos, mas também às inúmeras expressões humanas que podem ser lidas como linguagem, tais como manifestações culturais, ritos, gestos e demais símbolos. Neste sentido, a hermenêutica da religião se interessa por compreender-interpretar a religião em distintos contextos nos quais a linguagem permeia o símbolo e o sentido do fenômeno religioso, o qual é o objeto de estudo da hermenêutica da religião. A interpretação, aqui, é tomada como a ferramenta central para a compreensão e elaboração de discursos sobre os mais variados elementos da linguagem da religião. Desta forma, nosso GT acolhe contribuições à hermenêutica da religião ligadas aos mais diversos autores e autoras da tradição filosófica, bem como interpretações acerca do sentido dos diversos símbolos que constituem a linguagem da religião em suas diferentes formas. 

Palavras-chave: Linguagem. Religião. Filosofia da Religião

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GT 12
ENSINO RELIGIOSO: DIVERSIDADE E HUMANIZAÇÃO

Dra. Nathália Ferreira de Sousa Martins
Dr. Gustavo Claudiano Martins

Ementa: Este Grupo de Trabalho procura atrair pesquisas que tratam sobre o Ensino Religioso (ER) nas escolas públicas e privadas do Brasil para um debate reflexivo e analítico deste componente curricular com a pretensão de ser um espaço para a abordagem de temas como: educação, democracia, ética, humanização e religião. Sobretudo, como o ER pode minimizar a intolerância religiosa nas escolas a partir do entendimento dele como uma área do conhecimento que tem por objetivo promover um (re)conhecimento do outro, com suas diferenças e similaridades, que visa produzir práticas de respeito e tolerância, o que colabora com uma perspectiva de garantia dos direitos humanos. Nesse sentido, um ER que foge de práticas confessionais e proselitistas. A relevância do ER para a formação crítica do (a) cidadão (ã) justifica-se também no fato que inúmeras expressões religiosas presentes no cenário brasileiro convivem por vezes em relações de tensão entre si e com a sociedade, buscando legitimar seus discursos e doutrinas, extrapolando o âmbito privado. Nesse sentido, esse GT abarca temáticas variadas que envolvam o diálogo entre religião e educação com o propósito de entender e analisar a configuração do ER na atualidade, seus avanços e perspectivas, principalmente neste momento no qual este componente curricular é contemplado na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), assim como possui uma área de referência, as Ciências da Religião, garantido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para licenciatura em Ciências da Religião. O ER nesse sentido, longe de perpetuar o status quo, sendo um instrumento de reprodução social, se alinha a uma perspectiva de educação que visa a transformação da sociedade, através do diálogo, da empatia, do pensamento crítico e autônomo dos e das estudantes. Assim, trabalhos que pesquisam os aspectos históricos, curriculares, práticos, didáticos, epistemológicos, de formação e capacitação docente do ER não confessional serão bem-vindos a esse debate.

Palavras-chave: Ensino Religioso. Humanização. Diversidade.

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GT 13
RELIGIÃO E DISSIDÊNCIAS SEXUAIS E DE GÊNERO

Dra. Ana Ester Pádua Freire (GIN-SSOGIE)
Dr. André S. Musskopf (UFJF)
Doutoranda Giovanna Sarto (UFJF)

Ementa: Toda teologia é sexual. Assim, a teóloga argentina Marcella Althaus-Reid desestruturava a teologia hegemônica do seu tempo. Ao propormos este GT, o que esperamos - como parte de uma aposta comprometida com o desejo - é continuar problematizando os modos pelos quais gênero e religião se vinculam, a despeito das aparentes incoerências que os encerram, mas também a partir delas. Fissuras, rachaduras, brechas, experiência religiosa, dissidência, perversão, indecência são categorias ressignificadas, dentro de uma prática reflexiva que questiona os centros normatizadores e controladores da ideia de "normal". Este grupo de trabalho pretende ser, antes de tudo, um espaço onde possam ser discutidas, questionadas, experimentadas, nos mais variados formatos (comunicações de pesquisas, relatos de experiência, performances etc.), propostas que versem sobre a temática das dissidências sexuais e de gênero, na interface com a experiência religiosa. Serão bem-vindos trabalhos concluídos, ou em andamento, como também outras formas de comunicação que se orientem pelos estudos de gênero, perspectivas decoloniais, interseccionais, da teologia e da teoria queer, estudos feministas etc. De forma geral, acolheremos propostas que busquem tensionar as relações entre religião e gênero. Desse modo, pretendemos problematizar outras (re)existências que se situam e construam outros repertórios, por meio dos quais elegemos a coragem, a criatividade e a esperança, como modos de produção de novas fissuras.  

Palavras-chave: Religião e Gênero. Religião, Gênero e Sexualidade. Estudos de Diversidade Sexual e de Gênero. Teologia Feminista. Teologia Queer.